***RUI BARBOSA***

***RUI BARBOSA***
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
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quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Cartas ao Simão - 29/09/1963







A história de Resende contada sucinta e agradavelmente em formato de carta por um dos maiores conhecedores de nossa terra: Pedro Braile, neto.

"Cartas ao Simão" era uma coluna publicada no semanário "A Lyra", jornal de Resende que circulou, ininterruptamente,  por mais de 100 anos.

Este texto foi escrito aos 29 de Setembro de 1963 em comemoração aos 162 anos da elevação de Resende a categoria de Vila.
Reproduzo-o em seu cinquentenário de publicação, por conta da comemoração neste ano de 2013, dos 269 anos de Fundação, 212 de Vila e 165 de Cidade com o intuito de passar a todos, principalmente aos mais novos resendenses, um pouco de informação sobre nossa História.

É digno de nota observar que na capa da publicação vê-se a Usina Hidrelétrica do Funil (Furnas), sendo que essa obra estava em sua fase inícial em 1963 e o ilustrador Jandir Queiroz usou a planta original da CHEVAP para basear seu desenho, que aliás reproduz com perfeição a obra pronta como a vemos hoje. A Hidrelétrica do Funil só entrou em operação em 1969.

Também não podemos deixar sem destaque o prólogo escrito por Arísio Maciel, do qual destaco esse trecho: 

"Se Resende tem um passado de glória, se guarda no bojo de suas tradições um sem número de fatos e feitos que engrandeceriam qualquer história, que valeria se se perdessem nos escaninhos do tempo e não chegassem aos "de hoje" ou dos que ainda virão?"

Há ainda na página 2, a dedicatória manuscrita que "seu" Pedrinho fez para a família Maércio Alves, citando todos os seus membros.
 
Pedro Braile, neto (*1906  +1971) mais conhecido como "Seu" Pedrinho, dentre muitas atividades, foi comerciante, político,  jornalista tendo fundado e redatoriado jornais,  foi o autor intelectual do Almanaque de "O Municipal" 1944 - Resende no seu Duocentésimo ano de existência. Era uma pessoa muito querida, não só pela sua dignidade, como também por ser inteligente, culto, de prosa agradável. Era amável, simpático, educado e gentil. Um dos mais aplaudidos intelectuais de seu tempo. Casou-se em 22/12/1928 com Martha Palhas, conhecida como Da. Coração, por sua bondade e dedicação a todos que a procuravam. Do casal nasceram dois filhos: Pedrita e Pedro Márcio Braile.

           Clique na imagem abaixo para abrir a apresentação.



segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Governo Aarão S. Rocha - 1967/1971



Dr. Aarão Soares da Rocha governou Resende em dois mandatos, ambos conquistados em eleições pelo voto popular: De 31/01/1967 a 31/01/1971 e de 31/01/1973 a 31/01/1977. 
O pequeno folheto que mostramos aqui refere-se a prestação de contas do seu primeiro mandato (1967/1971), onde se vê que apesar dos parcos recursos, com uma administração séria, honesta,  enxuta e a vontade férrea de trabalhar em prol da nossa terra, desenvolveu um governo de muitas realizações e que se mostram importantes até os dias de hoje. O detalhe importante é que esta prestação de contas foi feita após o término do mandato, com recursos do próprio prefeito; e ao completarem-se 42 anos de sua publicação e distribuição, por sua importância, torna-se um documento Histórico, que pode servir de exemplo para governantes atuais e futuros, e também fonte de pesquisa para historiadores e estudantes. Foram muitas novas ruas e avenidas calçadas e asfaltadas, escolas rurais, postos de saúde... Leia com atenção e se surpreenderá com tantas realizações.

Além das muitas obras descritas neste folheto, uma das mais importantes é a que consta nas "Considerações Finais": A constituição legal da DUFIL "(...) para instalar-se com sua fábrica de filmes.". Esta empresa, DUFIL, foi a precursora da Polo Industrial de Resende, pois instalou-se naquele terreno, tornando-se mais tarde a Fábrica de Filmes Sakura, vendida posteriormente para a gigante Kodak, a primeira indústria de grande porte a se instalar em Resende e em cujas instalações funciona hoje a UERJ. 


Filho do Coronel João Soares da Rocha e de Da. Rita Maria Ferreira da Rocha, Dr. Aarão nasceu em Resende no dia 26 de Julho de 1910. Formado em Agronomia pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (MG); muito antes de entrar para a política já era grande fazendeiro criador de gado leiteiro, seguindo os passos do pai e do avô, Pedro Soares da Rocha. Casou-se aos 10/12/1936 com Da. Hulda Vilhena dos Reis.



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sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Hans Israel Hirsfield


Inesquecível história real sobre um homem por quem sempre nutri grande admiração. 
Publicado no "O Ponte Velha" em 2007.

                                                                           Imagem: internet


         Era um tipo diferente e estranho aquele... Homem de poucas palavras, aparentando ter passado dos 50 anos, muito alto, magro, braços enormes com números tatuados em azul na altura de um dos punhos (que se via de relance), pernas muito compridas, cabelo grisalho cortado bem curtinho, rosto vincado; marcado pela dura vida passada. Nariz afilado com uma verruga numa das narinas, boca grande, orelhas maiores ainda, olhos pequeninos, que às vezes brilhavam de maneira vívida, outras ficavam meio que embaçados, tristes, distantes, parecendo perdidos em lembranças de momentos fortes, com traços de cansaço. Olhar  que eu percebia através dos óculos “fundo de garrafa” com grosso aro preto, assim como seu chapelão redondo, de feltro, enterrado até a testa e cuja aba lhe cobria quase a metade dos ombros, mas que certamente o protegia do sol. Estava sempre com um surrado paletó preto “risca de giz” e camisa abotoada até o pescoço, porém sem gravata. Usava invariavelmente um mesmo par de sapatos social preto (que já tinham tido lá seus dias de glória), encadarçado com barbantes, meias que haviam sido brancas  e amarelaram com o passar dos tempos, a boca dos canos esgarçadas e arriadas, deixando à mostra parte dos ossos do calcanhar. Calças largas de linho cinza, presas à cintura por um cinto de cor indefinida, de onde saía uma língua de couro que lhe caia até quase a metade da coxa, com a bainha sempre presa por elásticos pra evitar um enrosco na corrente da bicicleta; uma Philips preta (seu único meio de transporte), com banco de couro e molas, que rangiam a cada pedalada, e, um guarda-chuva enrolado, eternamente preso ao quadro da mesma. No porta bagagens, uma caixa de madeira que usava para carregar os ovos que vendia. Morava lá na Fazenda da Barra, numa pequena propriedade rural na comunidade judaica, perto da chácara do “tio” Maércio, onde passávamos as férias escolares. Era de lá que o conhecia desde os anos 50. Mas o fato que vou narrar, se deu por volta de 1965. Pois é... Eu já era bancário, apesar da pouca idade (15 anos) e trabalhava como contínuo. Aliás, registre-se que naquele tempo, TODO o serviço bancário era manual, viu gente?! Nada de computadores ou algo que sequer se aproximasse disso. As máquinas mais modernas que tínhamos por lá eram elétricas: uma de escrever e outra de somar! Caneta só tinteiro. Esferográfica era coisa a ser inventada.
            Na época, o expediente bancário para o público começava as oito da manhã e terminava as quatro da tarde, sem intervalo. Normalmente eu saía pro almoço por volta de onze e meia e retornava próximo de uma da tarde. Fazia minhas refeições, rapidamente, no extinto e saudoso Bar Caçula, indo em seguida pra loja de meu pai, na Alfredo Whately (Casa das Miudezas) para que ele e meu tio (João) pudessem almoçar. O tio voltava logo, pois morava perto. Meu pai comia em casa também, mas um pouco mais distante (na Eduardo Cotrim) sem hora certa pra voltar. Nesse espaço de tempo, a loja ficava sob minha responsabilidade. Pois bem... Certo dia, o “seu” Hans, vai ao Banco e o atendo no balcão. Acho que era um depósito (o pior era escrever o nome Hirsfield, com aquela caneta de pena que a gente molhava no tinteiro e às vezes borrava tudo.) Atendi-o em alguns minutos e ele saiu. Logo a seguir, deu minha hora de almoço. Após a rápida refeição, fui pra loja  cobrir o horário do pai e do tio. Lá eu tirava a gravata e paletó que usava pra compor o tipo “bancário”. Nesse meio tempo em que estava sozinho, entra o “seu” Hans. Ele me dá uma lista de coisas que precisava: arame, pregos, parafusos, etc. Comecei a separar a mercadoria e notei que ele me olhava de maneira esquisita. Levei uns vinte minutos pra atender seu pedido, embrulhar, receber e fazer o troco. Foi embora me olhando meio enviesado. Parecia desconfiado... Não demorou pro tio João chegar. Comentei  sobre o freguês e ele me disse que “seu” Hans era assim mesmo, meio esquisito. Voltei imediatamente pro Banco. Passados uns quinze minutos, entra o “seu” Hans novamente e o atendo. Queria falar com “a Maércio”... Expliquei-lhe que ele estava em horário de almoço, mas não devia demorar. Sentou-se num banco de madeira que tinha lá e ficou me olhando fixamente um bom tempo. Eu já estava até meio sem jeito quando bruscamente se levanta, vai até o balcão onde eu estava e  pergunta com aquele sotaque carregado: “Você ter uma irrmaum???” Pra não ter que ficar explicando o acidente que tinha vitimado minhas duas irmãs recentemente (o assunto me incomodava muito!) disse-lhe que sim. Ele só balbuciou um “Aah!!!” E voltou a se sentar. O tio Maércio chegou e eles sumiram na sala da gerência. Não o vi mais naquele dia. Algumas semanas depois (ele ia ao Banco com freqüência, e sempre me olhava de esgueio) eis que se dirige a mim e pergunta: “Sua irrmaum sumiu do loja de sua babai. Que houve?” Aí caiu a ficha... Eu, muito ordinário e sem-vergonha, disse que ele estudava fora. Limitou-se ao tradicional “Ah!!” e calou-se. Dias depois, volta e me diz: “Nunca via irrmauns gêmeas tão iguais no meu vida, querria tanto ver as dois juntas. Quando ele vem?”. Como consegui segurar o riso, não sei. Mas respondi, sério, que não sabia. E tratei de sair de perto. Fui rir no banheiro... Não é que o danado foi falar com meu pai? Uns quinze minutos depois; telefone pra mim. Meu pai pede que vá até a loja. Urgente!
Fui... me borrando de medo! Sabia o que me esperava... “Mentiroso e safado” foram os adjetivos mais leves que meu pai usou contra mim. “Pede desculpas pro “seu” Hans...Anda!” E cascudo comendo solto... Desculpas cabisbaixas pedidas, “seu” Hans sai sorrindo (nunca o tinha visto sorrir!) e dizendo: “Náu bate muito nela náu, ela serr muito inteligente e brincalhona!”. Pra encurtar. Levei mais uns tabefes à noite em casa, peguei 15 dias de castigo (sem cinema e clube) e toda vez que o “seu” Hans ia ao banco ou à loja, me refugiava no banheiro. Pra rir... de vergonha!!!

Aproveito para me solidarizar com as vítimas do Holocausto, pois foi vendo o noticiário sobre o toque de silêncio em Israel no dia 16 p.p. que me lembrei dessa história do Sr. Hans Israel Hirsfield, que não vejo já há muitos anos, mas por quem guardo muito respeito, carinho e admiração. Apesar da brincadeira dos gêmeos...

Shalom aleikhem. 


ÓFernando Lemos – 19/04/2007
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