***RUI BARBOSA***

***RUI BARBOSA***
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
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domingo, 8 de junho de 2014

TAÇA JULES RIMET: Uma gloriosa, triste e vergonhosa história.


O orgulho nacional do futebol brasileiro estava materializado em um símbolo que há 33 anos deixou de estar sob o domínio da nação mais vitoriosa no esporte. 
O sumiço da taça Jules Rimet, roubada facilmente da sede da CBF no Rio de Janeiro em dezembro de 1983, por descuido e  total falta de desvelo da entidade máxima do nosso futebol, e que foi posteriormente derretida por um argentino; é uma vergonha incomensurável para a "pátria de chuteiras" ou "o país do futebol". 
Criada em 1929 pelo então presidente da Fifa, Jules Rimet para ser disputada por países do mundo inteiro, se tornaria domínio definitivo daquele que vencesse o torneio por 3 vezes. E o Brasil conquistou esse direito em 1970 no México, depois de vencer as copas de 1958 na Suécia e 1962 no Chile.
Naquele tempo não existia ainda o padrão FIFA (bilhões de reais) na disputa das Copas, mas apenas o simples e humilde padrão FUTEBOL. E hoje a grande mídia divulga e promove a copa de 2014 aqui no Brasil contando estórias e mais estórias da vida dos jogadores, nos entupindo de comerciais de patrocínio, mas não menciona nada sobre o criador do torneio, não lhe dedica uma simples e merecida homenagem como se ele não existisse, e trata da mesma forma a triste e vergonhosa história do fim melancólico de nosso maior símbolo de conquista futebolística: A TAÇA JULES RIMET.  

Foto da Taça Jules Rimet  - (Museu do Futebol)

Em 1983, a taça do tri campeonato mundial foi roubada da sede da CBF, para vergonha e tristeza nacional e escândalo vexaminoso internacional.

Os ladrões achavam que tinham conseguido arranjar dinheiro fácil. Não imaginavam que todos, sem exceção, estavam se metendo numa estranha história de mortes, prisões, torturas e humilhações. 

Durante um jogo de baralho num Bar de Santo Cristo, bairro na zona portuária do Rio de Janeiro, Sérgio Pereira Ayres, o Peralta, tentou convencer Antônio Setta, sujeito afeito a pequenos furtos, a participar de um roubo. Não seria um crime comum. O objetivo era pegar a Taça Jules Rimet e seu 1,8 quilos de ouro. 
Gerente de banco e dizendo-se representante do Atlético Mineiro (fato negado pelo clube), Peralta conhecia o prédio da entidade, no centro do Rio de Janeiro. Sabia também que haviam duas taças. A réplica, guardada num cofre, e a original, exposta na sala de troféus. Como pareciam especialistas em idiotices, os cartolas da CBF, além da bestice de guardar a réplica no cofre e deixar a original em exposição, ainda mandaram fazer uma caixa de vidro à prova de balas, mas com o fundo preso, com pregos, na parede. Mas, Antônio Setta recusou o "serviço". Lembrou do irmão que morreu de infarto na final da Copa de 1970. 
Dois meses depois, a noticia sobre o roubo da taça se espalhou pelo país. Ao encontrar um policial seu conhecido numa roda de jogo, Setta passou a bola. Ele contou que Peralta planejara o serviço. Peralta tinha 35 anos na época, era solteiro e morava em Santo Cristo. E foi na mesa de carteado, onde Setta recusara o convite, que Peralta encontrou os dois cúmplices de que precisava: José Luiz Vieira da Silva, o Luiz Bigode, e Francisco José Rocha Rivera, o Chico Barbudo. Bigode era decorador e Chico Barbudo fazia bicos comprando e vendendo ouro. Na noite de 19 de dezembro de 1983, Barbudo e Bigode, seguindo orientação de Peralta, roubaram a Taça Jules Rimet e mais 3 peças da sede da CBF. 


"Fac símile" de jornal da época. (Foto web)

As quatro peças roubadas da CBF  na noite de 19 de dezembro de 1983.

Na véspera, o futebol entrara de férias pelo país afora e aquela noite de segunda feira tinha tudo para ser bem calma na rotina de João Batista Maia, vigia do prédio da Confederação Brasileira de Futebol, na rua da Alfândega, 70, no centro do Rio. Por volta das 21 horas, tudo mudou. Dois homens renderam o vigia Maia, que foi amordaçado, amarrado e teve os olhos vendados com esparadrapo. De posse das chaves das salas, os dois ladrões subiram aos 9º andar, onde ficava a Taça. Ela estava protegida por uma caixa de vidro à prova de balas, mas com o fundo pregado na parede com apenas 4 pregos. Um pé de cabra resolveu a questão. Barbudo e Bigode pegaram a "Jules Rimet", mais outras duas taças (Independência e Equitativa), um troféu (Jarrito de Ouro) e fugiram. A ação não durou mais que 20 minutos. Ambos teriam se encontrado com Sérgio Peralta, autor intelectual do crime, e, em data incerta até hoje, repassaram o troféu para Juan Carlos Hernandes, o argentino dono de uma loja de comércio de ouro. No seu escritório, Hernandes tinha o equipamento necessário para derreter a taça. Mas ele só podia fundir no máximo 250 gramas por vez. O jeito foi cortar a Jules Rimet em pedaços. Assim foi feito numa operação que durou menos de sete horas. Derretida, a taça virou barras de ouro e desapareceu para sempre. 


Charge: Diogo - Jornal da Tarde
Sob pressão de seus superiores, que queriam a solução rápida de um caso com repercussão mundial, os policiais ficaram entusiasmados quando Setta denunciou Peralta. No dia 25 de janeiro de 1984, Peralta foi preso quando andava na Avenida Beira Mar, Zona Sul do Rio de Janeiro. Ele teve seu rosto coberto por um capuz, jogado no chão de um carro e levado para um lugar desconhecido onde ficou três dias sem comer. Foi torturado. Peralta, Bigode e Barbudo, mentor e executores foram presos. Mas, onde estava a taça? Com eles não estava. Havia, portanto, um receptador na história, alguém que ficara com a mercadoria roubada. Em fevereiro de 1984, doze policiais invadiram uma loja de comércio de ouro, no centro do Rio. Curiosamente, um mês antes , o estabelecimento mudara a razão social para o sugestivo nome de “Aurimet”, que, numa leitura livre, podia ser a combinação de “AURI” (prefixo de ouro), e “RIMET” (de Jules Rimet). O nome antigo era J. C. Hernandes, de Juan Carlos Hernandes, o argentino que costumava negociar com Chico Barbudo e que fora acusado por este de ter ficado com o troféu. Na verdade, ninguém tinha mais a taça do tri. Ele fora cortada, derretida e passada para frente. Acabara. Depois de alguns meses na prisão, em 1984, o quarteto passou a acompanhar o processo em liberdade. Em 1988, veio a sentença. Para Peralta, o mentor, cinco anos de cadeia. Para os ladrões, seis anos. Para o receptador, três anos. Logo após o anúncio, o quarteto desapareceu. Peralta somente foi preso em 1994, em Cabo Frio. Foi para o presidio Esmeraldino Bandeira, em Bangú. Em setembro de 1998 ganhou liberdade condicional. Chico Barbudo não ficou muito tempo foragido. No dia 28 de setembro de 1989, ele foi assassinado num bar, em Santo Cristo. Em dezembro de 1985, Antônio Setta, o alcagüete, foi vítima de um acidente automobilístico fatal, próximo à Lagoa Rodrigo de Freitas. Setta tinha uma audiência no tribunal naquela semana. Luiz Bigode foi capturado pela Policia em 1995. Passou três anos trancafiado em Bangú e, em 1998 vivia em regime semi aberto na Colônia Agrícola de Magé. Preso por policiais ao desembarcar na Rodoviária de São Paulo, Juan Carlos Hernandes, foi reconhecido pelo delegado Marcelo Itagiba da Divisão de Repressão e Entorpecentes da Policia Federal. Hernandes se juntou ao destino dos seus outros três comparsas no crime. Nenhum ficou rico, todos perderam o que tinham na época do escândalo e garantem ter sido torturados pela policia. Um deles morreu assassinado. Outro cumpre pena na Colônia Agrícola de Magé, no Rio de Janeiro. Hernandes foi transferido para uma cela com outros 27 presos na Politer carioca. O quarto acusado de ser o mentor do sumiço, vive hoje em liberdade condicional, mas sabe que uma espécie de maldição persegue os envolvidos no escândalo.


Acima, a esquerda, Sérgio Pereira Ayres, o "Peralta" - um dos ladrões da Taça

Foto: Kodak institucional

Carlos Alberto Torres - O "Capitão do Tri" posa com a taça.

Atualização: 02/08/2014 - Novas Fotos

1930 - Francês Jules Rimet à esq. presidente da Fifa entrega o troféu da primeira Copa do Mundo a Raul Jude presidente da Federação Uruguaia de Futebol


A taça Jules Rimet original era assim.


Fonte: Reportagem de Rogério Daflon para a Revista Placar, 1988.
Do blog: ICH LIEBE FUSSBALL
Editado por Fernando Lemos


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