***RUI BARBOSA***

***RUI BARBOSA***
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
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quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

RESENDE F.C. – Antes de decidir, é preciso conhecer a história.


Anos 1940 - Uma das muitas enchentes que atingiam o R.F.C. antes de 1969.

           Tenho lido aqui e ali, notícias sobre uma possível venda do terreno onde está o campo do Resende Futebol Clube e que pertence ao mesmo por DOAÇÃO da Prefeitura Municipal de Resende mediante condições especificas. Também se fala em “revitalização” do espaço, com recuperação de suas dependências. Concordo com esta segunda opção, pelo fato desse clube fazer parte da história de Resende, e já ter seu espaço próprio, coisa rara ente os clubes de futebol, conquistado por mérito, suor e muito trabalho de gerações de resendenses.

Pesquisando sobre o Clube em tela, encontrei suas origens que remontam a 31/10/1846 (e lá se vão 167 anos), quando o jovem Antônio José Villaça (*1800/+1884), um dos primeiros portugueses  a se fixar na então Vila de Resende ainda antes de nossa independência em 1822, “requereu a licença para fixar sua tenda de ferreiro no rancho de sua propriedade no Largo da Várzea.” Era então o Largo da Várzea desprezado pelos empreendedores daquela época (fazendeiros, lavradores, artífices, etc.)  por sofrer com as constantes e fartas enchentes do Paraíba. Pois bem; apesar disso, cinco meses depois, ele pede e “a ata da CM de 26/03/1847 registra o requerimento de 120 palmos de terreno da rua da Ponte, [ao] canto da travessa da rua do Rosário, dando para a chácara de D. Ana da Silva. Foi atendido.” Nascia ali um novo logradouro apelidado com o passar do tempo de Várzea do Villaça, que correspondia a toda a área que vai da ponte do rio Sesmaria (hoje, ponte Pio XII), servindo o rio de limite, até as margens do Rio Paraíba do Sul, perto da ponte de madeira que ali existia na época e que resistiu até a construção da Ponte Velha, inaugurada em abril de 1905.

Em 1859, “a câmara, para descongestionar o trafego de rua Formosa (hoje Dr. Cunha Ferreira), mandou abrir uma rua que, partindo da ‘Formosa, termina na Várzea do Villaça’, hoje Praça da Concórdia.  Em consequência, Antônio José Villaça, proprietário da Várzea, reclama pagamento pelo trecho de terreno a ser utilizado publicamente. A Câmara não atende o pedido. O pretendido proprietário recorre à Justiça, que também não o atende.” Com essa introdução, fica patente que o local tinha pois um proprietário, já desde 1847.

Seguindo pela história, encontramos em 1869 o registro da efetivação do nome “praça da Concórdia, a então Várzea do Vilaça,” proposição feita pelo vereador Antunes, que a Câmara aprovou,  mudando o nome da Várzea, e de outras ruas da cidade.

Ao final do século 19, já se praticava por aqui o futebol, e não havia lugar melhor do que o “Campo da Concórdia”, aquela várzea plana, sem pedras e totalmente despovoada, onde (ao que tudo indica) a rapaziada já batia ali sua bolinha, com a permissão dos herdeiros do “seu” Antônio José Villaça, é claro.

E assim foi que “em janeiro de 1909, um grupo de rapazes, entusiastas do jogo bretão, funda o primeiro clube de futebol da cidade, o RESENDE F.C.”, um dos mais antigos do Brasil (o primeiro clube de futebol do Brasil é o Sport Club Rio Grande - RS, fundado em 19/07/1900, e o segundo a Associação Atlética Ponte Preta (SP) – 11/08/1900). Foi aclamado “capitani” do R.F.C, o ardoroso adepto João Teixeira de Carvalho, sendo escolhidos na ocasião Armando Monteiro, Alfredo Veloso e Francisco C. Soares, respectivamente, presidente, secretário e tesoureiro.

Em 1916, o prefeito Dr. Altivo Castelar veta uma “resolução da Câmara que cede ao RESENDE F.C.  a título gratuito o campo da Concórdia para praça desportiva.” Por essa nota, deduz-se que a praça da Concórdia já pertencia a Municipalidade.

Apesar disso, o Resende F.C. foi conquistando seu lugar na sociedade resendense, tanto assim que por volta de 1926 aparece seu órgão oficial, “O Stadium”, bem como “lança-se no campo da Concórdia a pedra fundamental  do “stadium” do R.F.C., concorridíssima cerimônia, orando a propósito o Dr. Pedro Rocha, presidente do clube alvi-negro.” Era a pressão para conquistar o terreno de forma definitiva.

No início da década de 1930, “a Prefeitura cede ao Ministério da Viação determinada faixa de terreno à Praça da Concórdia, na cidade, para localização do prédio destinado à agência postal-telegráfica da cidade.” Abre-se assim a possibilidade de o Resende Futebol  Clube pleitear e também conseguir seu intento: o terreno para o seu estádio.

Em 1934 o Resende F. C. demonstrando sua força regional, disputa 19 jogos,  dos quais perdeu apenas 4. “As mais renhidas pelejas foram com os clubes de Barra Mansa e Taubaté.” O orgulho pelo clube cresce entre a população.

Em 1940, constava na relação de bens patrimoniais do Município, dentre muitos outros, o “terreno à Praça da Concórdia, cedido a título precário ao Resende F.C., para campo de esporte,  [avaliado em] 20 contos de réis.” Essa importante nota histórica demonstra que, o terreno onde está hoje o campo do Resende F.C. pertencia, sem sombra de dúvidas, ao Município, que o adquiriu, talvez, por desapropriação, cuja data (ainda) não encontramos em nossa pesquisa.

Finalmente, em 1946“O prefeito [Dr. Otacílio de Freitas Assunção] expediu o decreto nº 65, autorizando o município a doar ao “RESENDE F.C.”, para sua praça de esportes, situada na Praça da Concórdia com área de 15.100,30 metros quadrados,  já utilizado pelo donatário para sua atividade esportiva. A doação subordina-se a umas quantas condições.” E são essas “umas quantas condições” que se quer mudar, pois a doação é condicional para uso exclusivamente para a prática de esportes, não podendo o clube lhe dar qualquer outra destinação e nem o vender. E é na ponta da caneta que se pretende apagar mais uma parte de nossa já dilacerada história, com a falta de preservação de nossos bens históricos materiais e imateriais, alterando-se esse decreto. 

Anos 1950 - O R.F.C visto de dentro para fora. Ao fundo (D) a Igreja Matriz.
Aí está, resumidamente, a história de um centenário clube, nascido de um lugar que de nada servia e que hoje faz parte da alma resendense. É nossa responsabilidade, manter essas tradições intactas, porém restauradas para  as gerações futuras se orgulharem da torrão em que nasceram e apoiarem iniciativas de preservação de nossa terra.

Portanto,  Sr. Prefeito José Rechuan Junior, Srs. Secretários Municipais, Srs. Vereadores, e demais envolvidos; o destino está em vossas mãos. Antes de tomar qualquer decisão, pedimos o bom senso no sentido de preservar o que ainda resta de nossa rica e documentada história, para que possamos nos orgulhar no futuro, deste presente que no adiantar do tempo, breve se tornará passado.

Algumas curiosidades sobre o RFC: 

- Originalmente, as traves do campo do Resende,  eram no sentido inverso de hoje. Uma trave ficava na lateral da Av. Gustavo Jardim e a outra na rua Paul Harris. Por isso, a arquibancada social foi construída no local em que ainda (embora praticamente destruída) se encontra, que era no meio de campo, o melhor ângulo para se assistir um jogo de futebol .  

- Onde hoje está a rua Pintor Nunes de Paula, era a quadra de Basquete, Futebol de Quadra e Vôlei, que ficava ao lado da tribuna social (arquibancada) no sentido de quem adentra ao clube pela porta da bilheteria antiga. 

- Antes de ter o seu “stadium”, o Resende F.C. fazia suas reuniões de trabalho e festivas (bailes) no salão principal do sobrado ainda existente na Praça Oliveira Botelho, onde hoje funciona um supermercado. Para quem não sabe, esse sobrado era a casa da cidade da “Rainha do Café”, Da. Maria Benedita Gonçalves Martins. Veja na foto abaixo, o detalhe gravado na curva da grade na sacada do prédio. Sobre o sobrado citado, ressalte-se que é um dos mais antigos prédios de Resende (o primeiro sobrado) e que foi nele que se aclamou aqui, em 1822, D. Pedro I - Imperador perpétuo do Brasil e a Constituição de 1824, outorgada pelo Imperador. Erroneamente é citado pelos historiadores como tendo sido construído em 1840. Está aí mais um patrimônio histórico que carece de atenção.

Anos 1920. O Resende Futebol Clube tinha sua sede no sobrado da praça. 


Fontes:

.Sodré, Alfredo – Rezende  Os Cem Anos da Cidade – Vol. I – Gráfica de “A Lira” - 1948
.Bopp, Itamar – Notas Genealógicas – Casamentos 501 a 602 e 701 – Gráfica Sangirard – 1973 
.Bop, Itamar e Sodré, Alfredo – Resende  Cem Anos da Cidade 1848-1948 – Gráfica Sangirard – 1977
.Wikipédia - (Internet)

Fotos: Arquivo pessoal Fernando Lemos.
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