Anos 1940 - Uma das muitas enchentes que atingiam o R.F.C. antes de 1969. |
Tenho lido aqui e ali, notícias sobre uma possível venda do
terreno onde está o campo do Resende Futebol Clube e que pertence ao mesmo por
DOAÇÃO da Prefeitura Municipal de Resende mediante condições especificas.
Também se fala em “revitalização” do espaço, com recuperação de suas
dependências. Concordo com esta segunda opção, pelo fato desse clube fazer
parte da história de Resende, e já ter seu espaço próprio, coisa rara ente os clubes de futebol, conquistado por mérito, suor e muito trabalho de gerações de resendenses.
Pesquisando sobre o Clube em tela, encontrei suas origens
que remontam a 31/10/1846 (e lá se vão 167 anos), quando o jovem Antônio José Villaça (*1800/+1884), um dos
primeiros portugueses a se fixar na
então Vila de Resende ainda antes de nossa independência em 1822, “requereu a
licença para fixar sua tenda de ferreiro no rancho de sua propriedade no Largo
da Várzea.” Era então o Largo da Várzea desprezado pelos empreendedores daquela
época (fazendeiros, lavradores, artífices, etc.) por sofrer com as constantes e
fartas enchentes do Paraíba. Pois bem; apesar disso, cinco meses depois, ele
pede e “a ata da CM de 26/03/1847 registra o requerimento de 120 palmos de
terreno da rua da Ponte, [ao] canto da travessa da rua do Rosário, dando para a
chácara de D. Ana da Silva. Foi atendido.” Nascia ali um novo logradouro
apelidado com o passar do tempo de Várzea do Villaça, que correspondia a toda a
área que vai da ponte do rio Sesmaria (hoje, ponte Pio XII), servindo o rio de
limite, até as margens do Rio Paraíba do Sul, perto da ponte de madeira que ali
existia na época e que resistiu até a construção da Ponte Velha, inaugurada em abril
de 1905.
Em 1859, “a câmara, para descongestionar o trafego de rua
Formosa (hoje Dr. Cunha Ferreira), mandou abrir uma rua que, partindo da
‘Formosa, termina na Várzea do Villaça’, hoje Praça da Concórdia. Em consequência, Antônio José Villaça,
proprietário da Várzea, reclama pagamento pelo trecho de terreno a ser
utilizado publicamente. A Câmara não atende o pedido. O pretendido proprietário
recorre à Justiça, que também não o atende.” Com essa introdução, fica patente
que o local tinha pois um proprietário, já desde 1847.
Seguindo pela história, encontramos em 1869 o registro da
efetivação do nome “praça da Concórdia, a então Várzea do Vilaça,” proposição
feita pelo vereador Antunes, que a Câmara aprovou, mudando o nome da Várzea, e de outras ruas da
cidade.
Ao final do século 19, já se praticava por aqui o futebol, e
não havia lugar melhor do que o “Campo da Concórdia”, aquela várzea plana, sem
pedras e totalmente despovoada, onde (ao que tudo indica) a rapaziada já batia
ali sua bolinha, com a permissão dos herdeiros do “seu” Antônio José Villaça, é
claro.
E assim foi que “em janeiro de
1909, um grupo de rapazes, entusiastas do jogo bretão, funda o primeiro
clube de futebol da cidade, o RESENDE
F.C.”, um dos mais antigos do Brasil (o primeiro clube de futebol do Brasil
é o Sport Club Rio Grande - RS, fundado em 19/07/1900, e o segundo a Associação
Atlética Ponte Preta (SP) – 11/08/1900). Foi aclamado “capitani” do R.F.C, o ardoroso
adepto João Teixeira de Carvalho, sendo escolhidos na ocasião Armando Monteiro,
Alfredo Veloso e Francisco C. Soares, respectivamente, presidente, secretário e
tesoureiro.
Em 1916, o prefeito Dr. Altivo Castelar veta uma “resolução
da Câmara que cede ao RESENDE F.C. a título gratuito o campo da Concórdia
para praça desportiva.” Por essa nota, deduz-se que a praça da Concórdia já
pertencia a Municipalidade.
Apesar disso, o Resende F.C. foi conquistando seu lugar na
sociedade resendense, tanto assim que por volta de 1926 aparece seu órgão
oficial, “O Stadium”, bem como “lança-se no campo da Concórdia a pedra
fundamental do “stadium” do R.F.C.,
concorridíssima cerimônia, orando a propósito o Dr. Pedro Rocha, presidente do
clube alvi-negro.” Era a pressão para conquistar o terreno de forma definitiva.
No início da década de 1930, “a Prefeitura cede ao
Ministério da Viação determinada faixa de terreno à Praça da Concórdia, na
cidade, para localização do prédio destinado à agência postal-telegráfica da
cidade.” Abre-se assim a possibilidade de o Resende Futebol Clube pleitear e também conseguir seu intento:
o terreno para o seu estádio.
Em 1934 o Resende F. C. demonstrando sua força regional,
disputa 19 jogos, dos quais perdeu
apenas 4. “As mais renhidas pelejas foram com os clubes de Barra Mansa e
Taubaté.” O orgulho pelo clube cresce entre a população.
Em 1940, constava na relação de bens patrimoniais do Município, dentre muitos outros, o “terreno à
Praça da Concórdia, cedido a título precário ao Resende F.C., para campo de
esporte, [avaliado em] 20 contos de
réis.” Essa importante nota histórica demonstra que, o terreno onde está hoje o
campo do Resende F.C. pertencia, sem sombra de dúvidas, ao Município, que o
adquiriu, talvez, por desapropriação, cuja data (ainda) não encontramos em
nossa pesquisa.
Finalmente, em 1946
– “O prefeito [Dr. Otacílio de Freitas
Assunção] expediu o decreto nº 65,
autorizando o município a doar ao “RESENDE F.C.”, para sua praça de esportes,
situada na Praça da Concórdia com área de 15.100,30 metros quadrados, já utilizado pelo donatário para sua atividade
esportiva. A doação subordina-se a umas quantas condições.” E são essas “umas
quantas condições” que se quer mudar, pois a doação é condicional para uso
exclusivamente para a prática de esportes, não podendo o clube lhe dar qualquer
outra destinação e nem o vender. E é na ponta da caneta que se pretende apagar
mais uma parte de nossa já dilacerada história, com a falta de preservação de
nossos bens históricos materiais e imateriais, alterando-se esse decreto.
Anos 1950 - O R.F.C visto de dentro para fora. Ao fundo (D) a Igreja Matriz. |
Aí está, resumidamente, a história de um centenário clube,
nascido de um lugar que de nada servia e que hoje faz parte da alma resendense.
É nossa responsabilidade, manter essas tradições intactas, porém restauradas
para as gerações futuras se orgulharem
da torrão em que nasceram e apoiarem iniciativas de preservação de nossa terra.
Portanto, Sr.
Prefeito José Rechuan Junior, Srs. Secretários Municipais, Srs. Vereadores, e demais envolvidos; o
destino está em vossas mãos. Antes de tomar qualquer decisão, pedimos o bom
senso no sentido de preservar o que ainda resta de nossa rica e documentada
história, para que possamos nos orgulhar no futuro, deste presente que no adiantar do tempo, breve se tornará passado.
Algumas curiosidades sobre o
RFC:
- Originalmente, as traves do campo do Resende, eram no sentido inverso de hoje. Uma trave
ficava na lateral da Av. Gustavo Jardim e a outra na rua Paul Harris. Por isso,
a arquibancada social foi construída no local em que ainda (embora praticamente
destruída) se encontra, que era no meio de campo, o melhor ângulo para se
assistir um jogo de futebol .
- Onde
hoje está a rua Pintor Nunes de Paula, era a quadra de Basquete, Futebol de Quadra e Vôlei, que
ficava ao lado da tribuna social (arquibancada) no sentido de quem adentra ao
clube pela porta da bilheteria antiga.
- Antes de ter o seu “stadium”, o
Resende F.C. fazia suas reuniões de trabalho e festivas (bailes) no salão principal
do sobrado ainda existente na Praça Oliveira Botelho, onde hoje funciona um
supermercado. Para quem não sabe, esse sobrado era a casa da cidade da “Rainha
do Café”, Da. Maria Benedita Gonçalves Martins. Veja na foto abaixo, o detalhe gravado na curva da grade na sacada do prédio. Sobre o sobrado citado, ressalte-se que é um dos mais antigos prédios de Resende (o primeiro sobrado) e que foi nele que se aclamou aqui, em 1822, D. Pedro I - Imperador perpétuo do Brasil e a Constituição de 1824, outorgada pelo Imperador. Erroneamente é citado pelos historiadores como tendo sido construído em 1840. Está aí mais um patrimônio histórico que carece de atenção.
Anos 1920. O Resende Futebol Clube tinha sua sede no sobrado da praça. |
Fontes:
.Sodré, Alfredo – Rezende
Os Cem Anos da Cidade – Vol. I – Gráfica de “A Lira” - 1948
.Bopp, Itamar – Notas Genealógicas – Casamentos 501 a 602 e
701 – Gráfica Sangirard – 1973
.Bop, Itamar e Sodré, Alfredo – Resende Cem Anos da Cidade 1848-1948 – Gráfica
Sangirard – 1977
.Wikipédia - (Internet)
Fotos: Arquivo pessoal Fernando Lemos.