"...VOCÊ sabe como os políticos italianos fizeram para desmantelar a Operação Mãos Limpas, uma das maiores operações anticorrupção da história europeia? Como exatamente eles conseguiram acabar com a mega investigação que conseguiu desmantelar diversos esquemas de propina entre empresas privadas e órgãos públicos da Itália? Como colocaram um ponto final no trabalho que serviu de inspiração para os promotores e juízes da Lava Jato no Brasil?
Pois vou lhe mostrar três motivos principais.
Dois deles você verá que lhe soam muito familiar, porque é o que estamos vendo acontecer com a Lava Jato neste momento.
1. O Parlamento italiano (exatamente porque era composto por muitas pessoas de algum modo ligadas ao poderes corruptos) promulgou novas leis que modificaram e, em determinados casos, até cancelaram alguns crimes, como o de concussão (crime praticado por funcionário público, em que este exige, para si ou para outrem, vantagem indevida);
2. Os magistrados foram deslegitimados em âmbito profissional e pessoal. Foram alvo de várias acusações infundadas, como de terem realizado prisões ilegais, de serem comandados pela CIA, de terem feito a operação para destruir o sistema dos partidos, de estarem envolvidos em atividades ilegais e assim por diante.
3. E, o mais grave de tudo, magistrados foram assassinados (como por exemplo Salvatore Borsellino e Giovanni Falcone, entre outros) justamente porque estavam descobrindo as relações que tinham sido criadas entre o sistema político e o sistema mafioso.
Mas o momento exato em que os políticos poderosos da Itália começaram a ter êxito foi quando focaram na criação de conflitos de interesse com a magistratura. Isso dividiu a opinião pública.
Hoje, no Brasil, temos o senador Renan Calheiros na missão de confundir a opinião pública.
Ele trouxe assuntos que certamente devem ser pauta de discussão, como os super salários. Mesmo porque há notícias de que existam no próprio Senado em relação, inclusive, a assessores e até ascensoristas. Por outro lado, magistrados íntegros concordam e se posicionam claramente a favor do debate e da extinção dos super salários na instituição à qual pertencem.
Portanto, onde está a perversidade de Renan? Está no propósito real que o motiva a endossar, neste “exato momento”, comissões e temas como super salários e abuso de autoridade.
O propósito é desligitimar a magistratura, ou seja, tirar o reconhecimento da autoridade de pessoas-chave como o juiz federal Sérgio Moro. Quebrar a delicada confiança e respeito da população em instituições responsáveis por trazer à tona o profundo envolvimento das maiores autoridades políticas do país com as mais importantes empresas públicas e privadas em atividades ilícitas.
Veja como a jogada é sórdida.
Renan tentou acelerar a tramitação do projeto que modifica a lei de abuso de autoridade. De acordo com calendário negociado em reunião de líderes da Casa, a proposta seria votada diretamente em plenário no dia 6 de dezembro, sem passar pela comissão de Constituição e Justiça do Senado. O projeto prevê diferentes punições a ações policiais e do Ministério Público e, portanto, é um ameaça direta à Lava Jato.
No dia 18 de novembro p.p. Lula pediu a prisão do juiz Moro devido “à prática de abuso de autoridade”. Muitos, ingenuamente, riram. Inclusive eu.
O que precisamos entender é que essa é uma estratégia consciente da classe política para acabar com a Lava Jato.
Portanto, um forte investimento de cada cidadão em análise, informação e participação comunitária diante das decisões de medidas anticorrupção é urgente.
Afinal, a corrupção desenfreada que vemos hoje no Brasil é uma consequência dessa lição que ignoramos."
19 de novembro de 2016.
Elisa Robson
Jornalista, especialista em Marketing e Negócios, mestre em Comunicação e Linguagens e administradora da página República de Curitiba.
Recebido por e-mail de R.Gonçalves -
Editado pelo blog - 19/01/2017
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