Por Jorge Serrão
O narcotráfico no Rio de Janeiro não vai acabar. Nem sofrer um baque estrutural, apesar da “guerra” a ele declarada pela administração Serginho Cabral. É sério o risco de desmoralização da parceria do governo fluminense com as Forças Armadas e a Polícia Federal. A presente batalha campal no Complexo do Alemão é apenas mais uma encenação midiático-policial-militar, no pretenso combate do Poder do Estado ao Poder Paralelo das facções criminosas. Na verdade, nada acontecerá contra o Crime Organizado, porque ele só existe na interação entre a máquina estatal e os criminosos – incluindo os políticos que se beneficiam dos esquemas criminosos.
Não importa o resultado da “Batalha do Alemão”. Seus efeitos serão idênticos ao da famosa Batalha de Itararé – aquela que não ocorreu, na década de 30 do século passado. O gerenciamento do narcotráfico apenas vai mudar de mãos. Pouco munda, em essência, na previsível rotatividade da ilegal atividade comercial de venda de drogas e aluguel de armas pesadas. Os traficantes A, da facção X, serão trocados pelos traficantes B, da facção Y. Todos, claro, parceiros do crime estatalmente organizado. Enfim, o que as “Forças de Segurança” fazem agora, no Rio de Janeiro, tem o efeito prático de um profundo enxugamento de gelo.
O narcotráfico não vai ser extinto no Rio e alhures. Por vários motivos simples. Indagar não ofende. Por acaso, a cadeia de consumo das drogas sofreu ou vai sofrer alguma alteração significativa? A demanda pelas drogas diminuiu, para que o tráfico seja extinto pela simplória via do combate armado? A prisão de dezenas de operários do narcotráfico é realmente significativa para acabar com a atividade criminosa? Os verdadeiros sustentáculos da máquina do tráfico realmente foram (ou serão) presos ou tirados definitivamente de circulação? As parcerias internacionais dos vendedores de drogas no Brasil (com grupos guerrilheiros ideologicamente identificados com o Foro de São Paulo) serão combatidas pelo poder vigente?
O narcotráfico é uma atividade econômica altamente lucrativa. Os economistas Sergio Guimarães Ferreira e Luciana Velloso, da subsecretaria estadual de Fazenda, elaboraram, em abril de 2009, o estudo: “A Economia do Tráfico na Cidade do Rio de Janeiro: uma tentativa de calcular o valor do negócio”. Os números da estimativa de consumo anual apavoram: Maconha (90 toneladas). Cocaína (8,8 toneladas). Crack (4,3 toneladas). A Quantidade de delinquentes envolvidos no tráfico é de 16.387 pessoas (estimativa da Polícia Civil).
Faturamento anual do Tráfico (ajustando a subestimativa das pesquisas diretas): Maconha (108,1 milhões de reais). Cocaína (423,2 milhões de reais). Crack (102,1 milhões de reais). Total: 633,4 milhões de reais. Custo Anual Estimado: Pessoal (158,7 milhões de reais). Custo de compra das drogas (193,9 milhões de reais). Armas (24,8 milhões de reais). Perdas por apreensões (19,4 milhões de reais). Total: 396,8 milhões de reais. Lucro operacional: (236,6 milhões de reais). Estudo completo pode ser visto e baixado em: http://www.fazenda.rj.gov.br/portal/ShowBinary/BEA%20Repository/site_fazenda/transpFiscal/estudoseconomicos/pdf/NT_2008_35.pdf
Tudo nessa guerra exibida midiaticamente é um jogo de ilusão. Ontem, o chefão Luiz Inácio Lula da Silva deixou isto claro - em Georgetown, onde participou de uma cúpula de emergência da União de Nações Sul-Americanas (Unasul). Avisou que as Forças Armadas mobilizadas nas operações contra a violência no Rio de Janeiro não fariam prisões. Com isto, Lula quis apenas ressaltar que as tropas de elite das Forças Armadas se tornaram meras coadjuvantes, sob comando do Governo e da Polícia Militar do Rio de Janeiro. Ou seja, na bagunda institucional promovida por Lula e seu ministro da Defesa, Nelson Jobim, o Exército e a Marinha viraram “forças auxiliares”.
As Forças Armadas caíram em uma cilada institucional. A atuação deles nesta operação de Garantia da Lei da Ordem não tem amparo legal. Os políticos não regulamentaram a ação constitucional do Exército, Marinha e da FAB nestas situações de emergência. Se a “batalha” do Alemão demorar demais, a chance de desgaste de imagem para as Forças Armadas é imensa. Se os militares forem obrigados a entram em combate, a vero, gerando “vítimas” no “meio civil” (aliado ou não do narcotráfico), acabarão atacados virulentamente pelos pretensos defensores dos “direitos humanos”, sempre háveis em relacionar as Forças Armadas com ações autoritárias.
Enquanto o pau canta na Cidade Maravilhosa – sendo visto no mundo inteiro -, a Presidenta eleita Dilma Rousseff toma uma decisão previsível. Decide dar continuidade à política internacional do governo Lula – alinhada ideologicamente com o radicalismo socialista na América Latina. Dilma manterá no cargo de Aspone Internacional o ilustre top-top Marco Aurélio Garcia – um dos principais dirigentes do Foro de São Paulo. Garcia fará o meio campo de Dilma com o PT e seus aliados externos. Por isto, tudo vai continuar como dantes, nas bocas de fumo do Abrantes.
Repetir conceitos corretos é preciso. Crime Organizado é a associação entre criminosos e servidores públicos. Sem a proteção do Estado o crime não se organiza. Cada vez mais organizado, o crime joga contra a Ordem Pública, que é o patrimônio jurídico mais importante para a sociedade, pois garante a vida e a liberdade dos cidadãos. Ou seja, agora, no Rio de Janeiro, o crime organizado não é combatido.
O crime organizado corrompe e destrói as instituições – que são a concretização da vontade da Nação (cristalizadora da vontade de um povo). A ação criminosa inviabiliza a Democracia, que é a segurança do direito natural. No Brasil, o sistema delitivo obedece, ideológica e politicamente, a esquemas externos que nos mantêm permanentemente colonizados, sem soberania efetiva. O crime não é um fim. É um meio.
O crime organizado emprega duas sofisticadas modalidades de violência radical. Tudo para minar as instituições e constranger o senso comum a não identificar o verdadeiro inimigo. A intenção é usar o medo como fator de contenção social. Isto dificulta ou impede uma reação efetiva da sociedade. E quem não reage rasteja. Perde qualquer guerra antecipadamente.
A organização criminosa promove a Guerra de 5ª geração. Também chamada de guerra assimétrica, é toda tentativa de origem externa, por quaisquer meios, que objetive minar o cenário político – econômico – tecnológico – psicossocial – ambiental – militar de um País, através de agentes internos ou externos. No teatro de operações carioca, o que se combate agora é o “operariado” do narcovarejo, cujos gerentes custam caro ao contribuinte nos Hotéis de Segurança Máxima. E os verdadeiros chefões dos gerentes, alguém vai combater? Jura que vai?
Ou seja, por todos estes conceitos objetivos, a “batalha” do Alemão vai dar em nada. No Brasil, como bem afirma o provérbio francês, tudo parece que muda para ficar sempre a mesma coisa. O próximo governo apenas dará continuidade a tudo que está aí. Certamente, com pequenas alterações na escalação do time do Crime Organizado. Tomara que os segmentos esclarecidos não caiam em mais uma armadilha do ilusionismo ideológico que comanda a verdadeira Organização Criminosa.
Por enquanto, a sociedade do espetáculo se aliena com uma pretensa guerra que se torna "real" com a colaboração da mídia amestrada tupiniquim. Aonde vamos parar? Nem o herói-fictício Coronel Nascimento saberá responder...
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Editor-chefe do blog e podcast Alerta Total: www.alertatotal.net. Especialista em Política, Economia, Administração Pública e Assuntos Estratégicos.
A imprensa carioca não tem memória. Todos se esqueceram convenientemente da megaoperação no mesmo Alemão há 3 anos, que também foi definida como "marco no combate ao tráfico" (e não deu em nada), na construção de mais um espetáculo midiático.
ResponderExcluirLembra desse?
http://cadernosdereportagem.blogspot.com/2010/12/alemao-por-quatro-lados_01.html
Ótimo post. Parabéns. Visite nosso blog!