***RUI BARBOSA***

***RUI BARBOSA***
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
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quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Timburibá: A busca continua...


Embora cite outro blog, esta postagem (fruto de muita pesquisa e dedicação) não tem a intenção da polêmica, mas tão somente corrigir um engano histórico. É também uma homenagem a Semana da Árvore

Esta imagem ilustrativa do Like a Bird não é a foto de um Timburibá



De 19 a 24 de Setembro, comemora-se a Semana da Árvore, sendo que o dia 21 é dedicado às nossas irmãs de planeta e de luta pela sobrevivência. Aproveitando a data, faço hoje uma correção necessária sobre o lendário e misterioso Timburibá.

Por essa época - há questão de um ano mais ou menos - estava pesquisando para um trabalho de história sobre Resende quando me deparei com um artigo num blog (Aldeia Global) que me deixou eufórico: A descoberta da existência de Timburibás na Resende de hoje. A informação era fenomenal e bombástica! Imediatamente inseri o fato nas minhas fontes de pesquisa e a usei em artigos que escrevia. Mas um detalhe me chamou a atenção no texto do blog: Dizia que o Timburibá era a árvore simbolo de Resende. Nascido e criado aqui, onde também fiz todos os meus estudos passando pelos melhores colégios,  nunca tinha ouvido falar disso. Resolvi pesquisar sobre esse fato, e nada encontrei a respeito. Como a postagem é de 2009, também me perguntei porque esse fato tão importante não foi divulgado pela mídia local - via historiadores, pesquisadores, acadêmicos da ARDHIS, AMAR e nem pela Casa da Cultura Macedo Miranda. E continua assim, sem divulgação alguma até hoje (22/09/2011). Porém, é referência para quem se informa pela internet para trabalhos diversos. Aprofundando a pesquisa, lí uma versão original e integral da "A Lenda do Tymburibá" de autoria do Dr. João de Azevedo Carneiro Maia, publicada em 1883. Observei que ao final da mesma, ele fazia uma descrição dos nomes que nela apareciam. E a descrição da árvore Timburibá não correspondia ao que está no texto do blog "Aldeia Global". Percebi então que havia ali, além dessa, outras incorreções históricas, que analiso abaixo, na ordem em que aparecem no post de onde foram retiradas: (para ler o post no Aldeia Global, CLIQUE AQUI)

1-      “O Timburibá é considerado, do ponto de vista histórico, a árvore símbolo de Resende.” Discordo e não sei quando nem de onde saiu isso de árvore símbolo. Veja bem: Se ela fosse a árvore símbolo de Resende, do ponto de vista histórico, constaria de nosso Brasão, criado por Itamar Bopp (ele não iria deixar passar isso se houvesse importância no fato, pois no brasão consta um elemento bem mais antigo e que faz parte de nossa história, que é a Coroa de Ouro simbolizando N.S. da Conceição) e assumido oficialmente pela municipalidade em 29 de Setembro de 1955, por decreto e em cerimônia oficial.
     Outro motivo de discordância é que o timburibá também não é mencionado em nosso hino, letra de Luiz Pistarini e música do maestro Lucas Ferraz.
      E finalmente porque - como disse acima - sou nascido, criado e estudei nos colégios de Resende e nunca ouvi qualquer menção a respeito. E naqueles tempos de escola (anos 50, curso fundamental, antigo primário) nós cantávamos diariamente o Hino Nacional em formatura geral antes de entrarmos para a sala de aula, e uma vez por semana - em sala - o Hino à Resende. Também fiz o antigo ginásio no Dom Bosco e o 2º grau no Souza Dantas, e igualmente nunca ouvi nada a respeito de nossa árvore símbolo. Deduzo, pois que essa “novidade” de árvore símbolo é uma criação recente. Li isso pela primeira vez no texto do blog Aldeia Global e foi o que me chamou a atenção para toda essa pesquisa. 

2- “Existem inclusive narrativas de um temporal, que no início do século XX teria sido responsável pela queda da tão marcante, hospitaleira e estimada árvore...” 
Discordo total e completamente. Baseado nas narrativas do Dr. João Maia ("A Lenda do Timburibá" - leia AQUI) e do Dr. José Ezequiel Freire de Lima (“A Morte de Timburibá” - Leia AQUI), fica claro que a árvore em questão resistiu às tempestades e tombou, provavelmente corroída pelos cupins e pelo tempo, na segunda metade do século 19.
                                            
João Maia escreveu:
Nomes e costumes referidos nesta Lenda.

Tymburibá
Árvore secular que havia no planalto do morro dos Passos desta cidade (Resende), e não há muitos anos deixou de existir, sem que se saiba, ao certo, a causa de sua destruição.”

A Lenda do Timburibá foi publicada em 1883 (século XIX), e quando da publicação fica claro que a árvore já não existia mais e que ele não sabia a causa de sua destruição. Portanto, um testemunho valioso, e que comprova que o texto postado no blog carece de embasamento histórico.

Só esse testemunho seria o suficiente, porém, tem também o depoimento do advogado, poeta, jornalista e escritor, Dr. Ezequiel Freire na sua prosa “A Morte de Timburibá”.
Escreveu ele a respeito, logo no primeiro parágrafo da prosa:
Há quinze anos, avistava-se ainda, campeando solitário no planalto da colina dos passos sobranceira a Resende, um colossal representante das florestas virgens – soberbo Timburibá.”
E repete mais adiante, confirmando:
“De abandono ou de velhice, fazem 15 anos, caiu um dia o Timburibá.”
Para confirmar a época da queda, recorri a outro trecho:
“(...) doeu-me a morte desamparada a que sucumbira o Timburibá (como ao povo está doendo o desterro do seu imperador valetudinário)...”
Raciocínio lógico: O desterro do Imperador Pedro II começou dia 18 de Novembro de 1889 e Ezequiel Freire morreu aos 14 de Novembro de 1891, quase exatamente dois anos após o desterro do Imperador. Tomando-se por base essas datas, podemos afirmar que o Timburibá caiu entre 1874 e 1876. Portanto, no século 19.
Porque caiu o Timburibá? Não foi por uma tempestade. Ezequiel Freire é mais uma vez preciso, e canta em versos:

“Debalde as ventanias rugidoras
flagelaram-lhe a coma, e o raio ousado
fendeu-lhe a fronte secular, debalde!
Fora impotente a fúria assoladora
das tempestades bravas pra tomba-lo!”

E, de quebra, ainda explica que destino teve a madeira:
“Seu tronco vendido pela municipalidade ao coveiro do cemitério, e por este revendido em lenha, deu-lhe para comprar o enxoval e constituir o primeiro dote da filha. Simpático destino do meu saudoso camarada de infância...".

Com dois depoimentos escritos por importantes contemporâneos do lendário Timburibá, não há que ter dúvidas. O Timburibá caiu ao final do século XIX, vítima do descaso dos homens ou de velhice.

Nota importante: Há também menção deste fato na página 66 do livro "Resende - Cem Anos de Cidade 1848-1948", de Itamar Bopp e Alfredo Sodré.

E a parte mais importante do texto blogado. A identificação da árvore anunciada como o misterioso Timburibá:

3-      “(...) que localizou uma nota através do Instituto Plantarum, onde encontrei referências botânicas e fotos: sob o nome científico de “Enterolobium contortisiliquum”, lá estava o nosso misterioso Timburibá. Logo em seguida adquiri uma coleção da Editora Europa, em cinco volumes, onde encontrei, no das árvores, a confirmação das referências botânicas anteriores.”
E mais adiante: “(...)por isso foi indispensável identificá-los por fatores como os                           frutos, que lhe emprestam nomes populares como “orelha de macaco”.

Se a identificação foi feita pelos frutos, há aqui um engano lamentável. A diferença entre os frutos do “Enterolobium contortisiliquum” (Timburi, orelha de macaco, etc.) e a descrição que os citados autores acima fazem dos frutos do Timburibá, é clara e inequívoca:

João Maia: “(...)Duas particularidades originais davam-lhe à frondagem um aspecto lindamente pitoresco (...)e, no tempo da infloração, aquelas bainhas verde-negras de forma cilíndrica, presas a um fio longo e delgado, e a caírem como lágrimas, ou pingentes de um candelabro gigante perdido nas amplidões do espaço.”

Ezequiel Freire: “(...)Dos seus galhos desciam longos fios delgados sustentando sua extremidade inferior vagens cilíndricas que se balouçavam, batendo-lhes o vento, a uma grande altura do solo, como pingentes de um gigantesco candelabro.”
 
Com essas descrições, conclui-se e pode-se afirmar com facilidade que o timburi, ou orelha de macaco, etc. (Enterolobium contortisiliquum), cujos frutos são em forma de pequenas “orelhas” quase circulares, e o Timburibá, com seus frutos cilíndricos e ao que tudo indica, grandes; pois podiam ser vistos ao longe, não são a mesma árvore.

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Avançando nas pesquisas, e com base nos depoimentos acima descritos, encontrei uma árvore cujos frutos tem semelhança com os do Timburibá. Fica a pergunta:
Seria a cássia-gigante ou cássia-rosa (Cassia grandis, L.f.) a nossa lendária árvore? Deixo a resposta aos botânicos, biólogos, pesquisadores e historiadores de plantão.

A partir do momento em que me convenci não ser o timburi ou orelha de macaco (Enterolobium contortisiliquum) o nosso Timburibá tão procurado, e, baseado nas descrições dos Drs. João de Azevedo Carneiro Maia e José Ezequiel Freire de Lima, passei a observar as árvores de Resende e seu entorno. Para minha surpresa, encontrei - com a ajuda de pessoas de meu convívio familiar - um madeiro que tem frutos e folhagem assemelhadas às descrições citadas. Abaixo, fotos da cássia-gigante ou cássia-rosa (Cassia grandis, L.f.) e uma apenas para comparação dos seus frutos. Para ampliar, clique nas fotos. 

Cássia-grandis na entrada do Tobogã - Bairro Alvorada - Resende (RJ)

Cássia-grandis - Aeroporto de Resende (RJ)

Frutos da cássia-grandis - Aeroporto de Resende (RJ)

Frutos da cássia-grandis - Entrada do Tobogã - Alvorada - Resende (RJ)

Fruto do timburi ou orelha de macaco - Em frente à entrada do Parque das Águas - Resende (RJ)

Comparação entre os frutos da cássia-gigante e do timburi

4 comentários:

  1. Olá Fernando!

    Primeiramente parabéns pela qualidade dos textos publicados em seu blog. Cheguei até ele pesquisando a origem de meu sobrenome: Tymburibá. Sou natural de Belo Horizonte e moro em Manaus a 4 anos. Por aqui já ouvi notícias até de tribos com esse nome, mas não consegui confirmar nada. Na família, o que se sabe é que é o nome de uma árvore. Estou à procura de mais informações, especialmente imagens de algum exemplar...

    Persebi que você chegou a uma possível relação da árvore que origiou o nome de minha família com a cássia-gigante. Você conseguiu obter alguma confirmação referente a essa sua suposição, que me parece bastante plausível?

    Uma outra dúvida que possuo decorre da troca da segunda letra da palavra: ora escrita com "i" e ora escrita com "y". Você tem alguma informação a respeito disso? Mais uma vez parabéns e obrigado pelas informações!

    Mateus Felipe Tymburibá Ferreira

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  2. Mateus, obrigado pelo elogio.
    Sobre o Tymburibá, ainda não consegui a informação botânica que confirme a relação entre a Cássia gigante e o Tymburibá. O interessante é que estava pensando justamente em continuar minhas pesquisas via sobrenomes de pessoas. Bom saber que já tenho um e que confirma que a origem é uma árvore. Estamos progredindo. Se conseguir informações sobre tribos ou algo que una os nomes, por favor, não deixe de fazer contato comigo. Falta pouco pra fechar definitivamente o círculo.
    Quanto ao "Y" e ao "I" a explicação é simples. Foi um acordo ortográfico ocorrido no final dos anos 1930 e que entrou em vigor no início de 1940. A grafia original era com "Y", e com o acordo, passou a se grafar com "I". No caso de nomes, permanece a grafia original. Minha cidade, por exemplo era com "Z" (Rezende) e agora é com "S", mas isso é outra história.
    Não sei se vc já leu um outro post, onde informo a localização exata do Tymburibá que existia aqui em Resende até por volta de 1874/76. Vamos continuar pesquisando, meu novo amigo virtual.
    Forte Abraço, muito obrigado pelo coment e...
    Namastê

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  3. Obrigado pela resposta, Fernando!

    Eu li todos os seus posts e certamente vou continuar as pesquisas por aqui. Quando eu tiver novidades eu lhe informo!

    Um abraço,

    Mateus.

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  4. Obrigado, Mateus.
    Se tiver perfil no facebook, me procure por lá:
    https://www.facebook.com/fepele2

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