***RUI BARBOSA***

***RUI BARBOSA***
"De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto." (Senado Federal, RJ. Obras Completas, Rui Barbosa. v. 41, t. 3, 1914, p. 86)
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segunda-feira, 2 de abril de 2012

Timburibá: Localização exata no Alto dos Passos.

"O TYMBURIBÁ E O OVO DE COLOMBO"

O "Cruzeiro dos Passos" marca o local exato onde ficava o Tymburibá .
Veja mais fotos abaixo.


Para os menos chegados em nossa História, e para os muitos novatos que estão chegando em Resende, uma pequena introdução para que possam entender este artigo.
 
Contam nossos ancestrais, que existia por aqui uma espécie botânica não catalogada e provavelmente extinta, que os índios Puris chamavam de Tymburibá.
Uma árvore dessa espécie sobressaia no alto do morro dos Passos, onde hoje se localiza o cemitério. Era de grande porte e podia ser vista de longe. Quando Simão da Cunha Gago (fundador de Resende) chegou em 1744, ela provavelmente já existia. Acredita-se que fosse bicentenária (ou mais) quando caiu em meados do século 19. A existência desse madeiro não é lenda, é real e está registrada em livros de nossa história, além de dar nome a uma rua, um jornal local e ter inspirado um dos mais ilustres de nossos historiadores a escrever “A Lenda do Timburibá”; uma bela página literária que poucos conhecem na íntegra.
Dentre os mistérios que envolvem a história dessa árvore, um dos mais intrigantes era: Onde afinal ficava exatamente o Tymburibá?
Resposta adiante, depois de um pouquinho de história...

Em 29 de setembro de 1901, quando se comemorou o primeiro centenário da elevação do povoado curado de N. S. da Conceição Campo Alegre da Paraíba Nova à categoria de Vila com o nome de Rezende, a cidade viveu uma de suas mais vibrantes festas até então vista por essas paragens. Foi um movimento tipicamente popular de estrondoso sucesso e sem a participação oficial dos mandatários da época. O povo organizou e bancou tudo, com o apoio da imprensa local e carioca, sob a batuta do poeta resendense Luiz Pistarini, do jornalista Alfredo Sodré e muitos outros. Foram muitas as festividades: Sessões cívicas e literárias, ereção do Obelisco do Centenário no então Largo da Constituição, hoje Praça do Centenário, visita aos colégios e a personalidades da época, quermesse, desfile cívico, grandioso baile, cinco bandas encheram a cidade de música e muitas outras atividades. Uma delas, que também fazia parte da comemoração oficial, foi a “romaria ao Alto dos Passos para a ereção do Cruzeiro simbólico, oferenda piedosa de Sra. Sara Gomes de Araújo”.  Mal sabia D. Sara de Araújo que ao erguer o tosco cruzeiro de madeira naquele dia, estava entrando para a história. Para entendermos o porquê disso, voltemos mais um pouquinho no tempo...

Em 1862, os vereadores Joaquim Rodrigues Antunes e Modesto Batista Roquete, fazem a indicação para que ”a rua “Paraíba” (a hoje Simão da Cunha e primitivamente de “Baixo”), fosse prolongada ao morro dos Passos, em direção ao Tymburibá, que secularmente ramalhava ao cabeço da colina, frondosa e galharda, e inspirou a João Maia rendilhada página literária – A Lenda do Tymburibá. Assim ficou resolvido. Por motivos não apurados, a projetada rua não chegou ao termo determinado pelo poder público. Terceiros se assenhoraram da porção de terra que demora ao sopé do morro marginal a Rua do Rosário. Assim, a rua de 62 não alcançou o local da árvore histórica e onde hoje se soergue o “Cruzeiro”; expressiva oferenda da Sra. Sara Gomes de Araújo (...) às festividades cívicas dos resendenses marcando o primeiro centenário da instalação oficial da Vila de Resende.” Portanto, quando a indicação da rua foi feita, o histórico Tymburibá ainda existia, pois sua queda se deu por volta de 1874. Fica claro que o Cruzeiro do Alto dos Passos – na elevação atrás da Igreja do Senhor dos Passos - indica com exatidão, o local onde se erguia o lendário, misterioso e histórico Tymburibá.  Além disso, o Cruzeiro é totalmente desalinhado com a rua que o abriga (Rua Cecília de Souza), o que reforça e comprova ser ali o local em que foi erguido originalmente. E para confirmar, uma placa de mármore afixada ao pé do mesmo, esclarece: “Salve 29 de Setembro de 1901 – Reconstruída em 1917. – Lembranças dos Filhos de Rezende”.  Os moradores do Alto dos Passos têm agora mais um ponto turístico e motivos para se orgulhar e comemorar no bairro.
E as autoridades municipais, a obrigação de homenagear Da. Sara Gomes de Araújo e o Tymburibá, dando seus nomes a logradouros no local. Ou coisa parecida. Mais uma placa, talvez...
Ou mesmo um memorial contando a "Lenda do Tymburibá" e sua história. Porque não? Em Ica (Peru), no Oásis de Huacachina (lá também há uma lenda), vi algo que poderia ser aplicado aqui que se tornaria, além de atração turística, fonte de cultura e certamente divulgaria nossa história para toda a população. 

Desde que comecei a pesquisar sobre a história de Resende, anos atrás, muitas perguntas e dúvidas me incomodam. Dentre elas, duas em particular me despertavam interesse: Onde ficava o Tymburibá e porque a Rua Simão da Cunha (Gago) - fundador da cidade - era tão minúscula, indo apenas do antigo Asilo Nicolino Gulhot até a esquina do C.C.R.R. e a partir dali, passava a chamar-se Tymburibá, que se estende em linha reta até a Rua do Rosário (se avançarmos nessa reta, morro acima, chega-se exatamente ao “Cruzeiro” do Tymburibá). Com a explicação acima, ficam ambas esclarecidas, pois a Rua Tymburibá, na realidade, originalmente era a Simão da Cunha, ou “de Baixo”. Nasci, morei – e fui criado – na esquina da Eduardo Cotrim com a Tymburibá e nos referíamos a ela como “Rua de Baixo”, um costume herdado de meus pais, avós e vizinhos mais antigos, que só a chamavam dessa forma. A Rua Tymburibá só ganhou esse nome por volta de 1869, sete anos após a indicação para a extensão da Simão da Cunha até o gigantesco Tymburibá.

Muitos amigos, pesquisadores, alguns historiadores e até Acadêmicos de nossa História me perguntavam e especulavam onde seria a localização exata da lendária árvore. A resposta estava, desde 1901 - por obra de Da. Sara Gomes de Araújo - no esquecido Cruzeiro do Alto dos Passos, como contado no "Almanack do Centenario de Rezende" (vide atualização abaixo), assim como no volume I do livro do jornalista Alfredo Sodré "Rezende os Cem Anos da Cidade" - e, replicada no livro homônimo de Itamar Bopp de 1978.
E um mistério maior precisa ser esclarecido e desvendado: Onde foi parar o Volume II do livro do Cel. Alfredo Sodré? Sim, porque se tem um titulado como "Volume I", fica evidente a existência do segundo, certo? Será que um dia vamos resolver esse? Quem sabe...

O mistério do local onde o Tymburibá se exibia, era como a metáfora do “Ovo de Colombo”. Estava na cara... Parecia impossível saber, mas... de simples solução. Bastava uma leitura mais cuidadosa dos livros que dispomos há anos.

E porque não passarmos a chama-lo, a partir de agora, de: “O Cruzeiro do Tymburibá”?

© Fernando Lemos – 15/02/2012 - Atualizado 22/08/2015 às 00:58h

Fontes:
Fonseca, Henrique e Bittencourt, Heitor - Almanack do Centenário de Rezende - (Typographia e Papelaria "Fonseca" - 1902)
Sodré, Alfredo - Rezende Os Cem anos da Cidade - Volume I - (Gráfica "A Lyra" - 1948)
Bopp, Itamar – Resende – Cem Anos de Cidade 1848-1948 (Gráfica Sangirard – 1978) 


Para saber mais:
Timburibá: A busca continua... – http://bit.ly/HEEENt
 “A Lenda do Timburibá” –  http://bit.ly/HOQzdC
 “A Morte de Timburibá” –  http://bit.ly/HCx3m4

De costas para o "Cruzeiro", em linha reta, vê-se a Rua Timburibá.
Virando-se 180°, em linha reta e de costas para a Rua Timburibá: o "Cruzeiro"
Aos pés do "Cruzeiro", a placa comemorativa e indicativa.

Sua disposição em desalinho com a rua, é indicação de local exato,
pois as construções que o rodeiam, não existiam em 1901.
Rua Timburibá: Seguindo em frente,em linha reta, temos lá no alto, o "Cruzeiro"
O "Cruzeiro" dos Passos com a cidade ao fundo.

Atualização - 22/08/2015:
Em pesquisa mais recente, encontrei a confirmação definitiva da localização exata do lendário Tymburibá, no "Almanack do Centenario de Rezende" publicado em 1902 referente às festas  havidas em 1901 por conta das comemorações do 1º centenário da criação da Vila de Rezende em 29 de Setembro de 1801. As imagens abaixo são das páginas do "Almanack": 


Capa
´Página 4

Página 186

Página 197

Página 231


Nota:  No fascículo nº 1 (Da terra dos Puris à cidade de Resende) da série “Resende – Cidade Histórica” (Jornal Beira-Rio), foi publicado que a árvore conhecida popularmente como “orelha de macaco, timburi, timbaúba, etc.” (Enterolobium contortisiliquum) seria o nosso Timburibá; o que não é verdade. Lamentável engano publicado no blog “Aldeia Global”, que me induziu ao erro, assim como a toda equipe que trabalhava no projeto. Aproveito para corrigir e do que assumo inteira e total responsabilidade.  (Fernando Lemos)



2 comentários:

  1. José Alberto Somavillasegunda-feira, 02 abril, 2012

    Na condição de um dos inúmeros inquisidores, no bom sentido, da localização do magnífico vegetal lembrado e exaltado em prosa e verso, 0 monumental Tymburibá, cumprimento o amigo pelos esforços de toda ordem para dirimir a questão.Tanto quanto possivel divulgarei as assertivas que soam definitivas, ao menos para mim.Abraços fraternos do Somavilla

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  2. Obrigado, amigo Somavilla. Muito obrigado mesmo!!! Valeu.

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