Alexandre Garcia*
Na caminhada em torno da Lagoa Rodrigo de Freitas, pedimos dois cocos para compensar o suor do calorão. A R$3,50 cada um, entreguei uma nota de 20 para o vendedor. Ele ficou me olhando e implorou: Patrão, me ajude! Dois de 3 e 50, dá quanto? Entendi que ele estava pedindo uma gorjeta; pensei em arredondar para 10 reais. Mas minha filha entendeu melhor e informou a ele: 3 e 50 vezes 2 dá 7 e o senhor tem que dar 13 de troco. Era isso. O homem, de uns 45 anos, vendedor de coco na zona sul do Rio de Janeiro, não sabia dar troco nas suas vendas. Minutos depois, acontecia o mesmo com um casal que pagava dois cocos com uma nota de 20 reais. Fiquei estarrecido e na maior tristeza. No meu país, nem sequer as operações aritiméticas fundamentais são conhecidas por quem precisa ganhar a vida.
Naquele sábado ainda teria outra surpresa. Ao chegar à Globo e abrir o computador, encontrei extenso e-mail de um bacharel em direito, protestando contra a exigência de exame para a OAB. O texto era prolixo, cheio de modismos, sem vírgulas, com erros de ortografia e pobre em argumentação. E, ao contrário do que pretendia o missivista, comprovava a necessidade de um filtro antes de admitir advogados nos tribunais. Além disso, mostrava também a mediocridade do ensino superior.
No programa Espaço Aberto, que apresento, os presidentes da Câmara e do Senado concordaram imediatamente comigo, em que a Educação é a maior das prioridades e das urgências deste país. Estranhei, porque na prática, pouco os políticos fazem pela Educação, além de declarações óbvias sobre a importância dela. E não conseguem me demover da constatação de que eles temem a Educação. Porque, afinal, o conhecimento liberta. E eleitor livre não aceita paternalismos. O maior mérito da Educação é que ensina a pensar. Portanto, ensina a julgar e a decidir.
Estamos atrasadíssimos. Não há como comparar um menino médio brasileiro com um uruguaio, por exemplo. A educação, no pequeno vizinho, faz parte da cultura como uma necessidade básica - e com qualidade. E começa em casa, onde se ensinam os deveres de cidadania. Por aqui, é uma tristeza. Se não reagirmos, não teremos futuro. Já se nota que os demais emergentes estão passando à nossa frente. Por um principal motivo: Educação. A China, há 30 anos, investe maciçamente em Educação. E não pára de crescer e de conquistar maior bem-estar social. Aqui, Educação é um perigo para os políticos e, por enquanto, uma arma contra o nosso futuro.
*Alexandre Garcia é jornalista em Brasília e escreve semanalmente em Só Notícias
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